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Febre Oropouche: Tudo que Você Precisa Saber

A febre Oropouche é uma doença viral que tem ganhado atenção no Brasil e nas Américas devido ao aumento de casos e à sua expansão para além das áreas tradicionalmente endêmicas.

Transmitida principalmente por mosquitos, ela é causada pelo vírus Oropouche (OROV), um arbovírus da família Peribunyaviridae, gênero Orthobunyavirus. No Brasil é a segunda arbovirose mais comum depois da dengue, com mais de meio milhão de casos históricos, segundo estimativas do Ministério da Saúde. Em 2024 e início de 2025, surtos em regiões como o estado do Rio de Janeiro, principalmente Cachoeiras de Macacu, levantaram preocupações sobre sua disseminação e impacto na saúde pública.

O que é a Febre Oropouche?

A febre Oropouche é uma infecção viral zoonótica, ou seja, transmitida de animais para humanos por vetores como insetos. O vírus Oropouche circula em dois ciclos: o silvestre, envolvendo animais como bichos-preguiça, pequenos primatas e possivelmente aves, e o urbano, onde humanos são os principais hospedeiros.

O principal vetor é o Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, um inseto minúsculo muito comum em áreas tropicais. Outros mosquitos, como o Culex quinquefasciatus (muriçoca), também podem atuar como vetores secundários.

A doença é classificada como arbovirose, assim como dengue, zika e chikungunya, devido à transmissão por artrópodes. No Brasil, ela é endêmica na região amazônica, mas sua presença em áreas urbanas e estados do Sudeste, como o Rio de Janeiro, indica uma mudança no padrão epidemiológico, possivelmente ligada a fatores ambientais e humanos.

Origem da Febre Oropouche

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O vírus Oropouche foi identificado pela primeira vez em 1955, perto do rio Oropouche, em Trinidad e Tobago (localizada ao norte da costa nordeste da América do Sul), quando foi isolado de um trabalhador florestal com febre. No Brasil, o OROV foi descrito em 1960, a partir de uma amostra de sangue de um bicho-preguiça, capturado durante a construção da rodovia Belém-Brasília.

Desde então, mais de 30 epidemias foram registradas na Amazônia, com surtos significativos entre 1978 e 1980, totalizando cerca de 263 mil casos, conforme o Ministério da Saúde.

A origem do vírus está ligada a ecossistemas tropicais, onde o ciclo silvestre mantém sua circulação entre animais e mosquitos. No entanto, a urbanização, o desmatamento e as mudanças climáticas têm facilitado sua transição para o ciclo urbano, com o Culicoides paraensis se adaptando a ambientes próximos às populações humanas.

Estudos da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) sugerem que o aquecimento global e a perda de habitats naturais estão ampliando o alcance geográfico do vírus, levando-o a regiões como o Sudeste brasileiro.

Sintomas da Febre Oropouche

Os sintomas da febre Oropouche aparecem entre 4 e 8 dias após a picada do inseto infectado e são semelhantes aos de outras arboviroses, o que muitas vezes dificulta o diagnóstico inicial. A doença é caracterizada por:

  • Febre alta: Temperaturas de até 40°C, de início súbito, presente em quase todos os casos.
  • Dor de cabeça intensa: Frequentemente na região occipital (nuca).
  • Dores musculares e articulares: Mialgia e artralgia afetam costas, pernas e braços.
  • Náuseas e vômitos: Podem levar à desidratação se não tratados.
  • Fotofobia: Sensibilidade à luz, acompanhada de dor atrás dos olhos.
  • Tontura: Sensação de desequilíbrio é comum.
  • Rash cutâneo: Manchas na pele aparecem em alguns pacientes, semelhantes às da rubéola.

A febre geralmente dura de 5 a 7 dias, mas um traço distintivo da Oropouche é a recidiva: até 60% dos pacientes relatam o retorno dos sintomas após 1-2 semanas, segundo estudos da Universidade do Kansas.

Em casos raros, a doença pode evoluir para complicações graves, como meningite ou encefalite, especialmente em pessoas com sistema imunológico comprometido. Em 2024, o Brasil registrou as primeiras mortes associadas ao vírus na Bahia, com sintomas como sangramentos e hipotensão, e casos de transmissão vertical (da mãe para o feto) foram investigados, com relatos de abortos e microcefalia, conforme o Instituto Evandro Chagas.

Por que Cachoeiras de Macacu Está se Tornando um Foco do Oropuche?

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Cachoeiras de Macacu, município na região metropolitana do Rio de Janeiro, tem emergido como um foco da febre Oropouche em 2024 e 2025, algo inesperado para uma área fora da Amazônia. Vários fatores explicam essa tendência:

1. Condições Ambientais Favoráveis

Localizado em uma região de Mata Atlântica, Cachoeiras de Macacu possui um clima úmido e quente, ideal para a proliferação do Culicoides paraensis. Rios, cachoeiras e áreas de vegetação densa criam habitats perfeitos para o mosquito, que prefere solos úmidos e matéria orgânica em decomposição.

2. Produção de Bananas

Cachoeiras de Macacu é um dos maiores produtores de bananas do estado do Rio de Janeiro, com extensas plantações que atraem o mosquito-pólvora. As bananeiras, especialmente em áreas de cultivo intensivo, geram sombra e umidade, condições ideais para a reprodução do maruim. Resíduos orgânicos, como cascas de banana e folhas em decomposição, acumulam-se no solo, servindo como criadouros naturais para as larvas do mosquito.

3. Proximidade com Áreas Rurais e Urbanas

O município combina zonas urbanas com extensas áreas rurais e florestais, facilitando a interação entre os ciclos silvestre e urbano do vírus. Animais como bichos-preguiça, presentes na região, podem atuar como reservatórios.

4. Mudanças Climáticas

O aumento das temperaturas e chuvas intensas, conforme apontado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), amplia os criadouros do maruim, especialmente em períodos chuvosos, potencializando o impacto das plantações de banana.

5. Mobilidade Humana

A proximidade com a capital fluminense e o fluxo de pessoas de áreas endêmicas (ex.: Norte do Brasil) podem ter introduzido o vírus, que se estabeleceu localmente. Um caso confirmado no Rio de Janeiro em 2024, por exemplo, envolveu um paciente com histórico de viagem a Manaus, segundo o Instituto Oswaldo Cruz.

6. Falta de Diagnóstico Precoce

A semelhança com dengue e chikungunya pode ter atrasado a identificação da Oropouche em Cachoeiras de Macacu, permitindo sua disseminação silenciosa.

Em 2024, o estado do Rio de Janeiro registrou casos em vários municípios, mas Cachoeiras de Macacu se destacou pelo número crescente de notificações, conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ). A vigilância intensificada em 2025 confirmou a circulação local, tornando o município um ponto de alerta, especialmente devido à influência das plantações de banana na ecologia do vetor.

Hábitos do Mosquito Transmissor

O mosquito-pólvora, principal vetor da febre Oropouche, é um inseto minúsculo (1-3 mm), menor que mosquitos comuns como o Aedes aegypti. Seus hábitos incluem:

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  • Reprodução: As larvas se desenvolvem em solos úmidos, margens de rios, buracos em árvores e matéria orgânica em decomposição (ex.: folhas, frutos podres). Diferente do Aedes, ele não depende exclusivamente de água parada, mas de ambientes úmidos e sombreados.
  • Horários de Atividade: O maruim é mais ativo ao amanhecer e ao entardecer, períodos de maior umidade e menor exposição solar.
  • Comportamento Alimentar: Alimenta-se de sangue humano e de animais, sendo altamente antropofílico (atrai-se por humanos). Sua picada é dolorosa e pode passar despercebida devido ao tamanho reduzido.
  • Distribuição: Comum em áreas tropicais, o Culicoides se adapta a ambientes rurais e urbanos, especialmente onde há vegetação densa e sombra.

O Culex quinquefasciatus, vetor secundário, prefere água parada com matéria orgânica (ex.: esgotos) e é mais ativo à noite, complementando a transmissão em áreas urbanas.

Diagnóstico da Febre Oropouche

O diagnóstico combina análise clínica, epidemiológica e laboratorial:

  • Clínico: Baseia-se em sintomas como febre súbita e dores, associados a exposição a áreas endêmicas ou com casos confirmados.
  • Laboratorial: Testes como RT-PCR detectam o vírus no sangue nos primeiros 7 dias. Sorologia (anticorpos) é usada em fases posteriores. No SUS, laboratórios como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizam esses exames.
  • Diferencial: É essencial distinguir a Oropouche de dengue, zika e chikungunya, exigindo testes específicos.

Tratamento da Febre Oropouche

Não há antiviral específico ou vacina contra o OROV. O tratamento é sintomático:

  • Repouso absoluto.
  • Hidratação intensa para evitar desidratação.
  • Antitérmicos (paracetamol) e analgésicos (dipirona) para febre e dor.
  • Evitar anti-inflamatórios (ex.: ibuprofeno) devido ao risco de hemorragias.

Casos graves, como meningite, requerem internação e monitoramento médico.

Prevenção da Febre Oropouche

A prevenção foca no controle do vetor:

  • Use repelentes nas áreas expostas da pele.
  • Vista roupas longas ao amanhecer e entardecer.
  • Instale telas finas em portas e janelas (o maruim atravessa malhas comuns).
  • Elimine criadouros, como acúmulo de folhas e solos úmidos.
  • Evite áreas de mata em horários de pico do mosquito.

No Brasil, a febre Oropouche já ultrapassou 10 mil casos em 2024, com Amazonas e Rondônia como epicentros históricos. A expansão para o Sudeste, incluindo Cachoeiras de Macacu, reflete a adaptação do vírus a novos ecossistemas. A OMS alerta que o aquecimento global e o desmatamento podem intensificar surtos, enquanto a OPAS recomenda vigilância reforçada e pesquisas sobre transmissão vertical.

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