A ansiedade é uma realidade que atravessa a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, mas no Brasil ela ganha um destaque especial: somos o país com a maior prevalência de transtornos de ansiedade globalmente, afetando cerca de 9,3% da população, ou mais de 19 milhões de brasileiros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em um contexto de grandes cidades, pressões econômicas, desigualdades sociais e mudanças rápidas no estilo de vida, a ansiedade tornou-se um verdadeiro “mal do século” por aqui. Mas como saber se você está entre aqueles que convivem com ela? Será que o que você sente é apenas um estresse passageiro ou algo mais profundo?
Por que a Ansiedade é Tão Comum no Brasil?
Antes de mergulhar nos sinais da ansiedade, vale entender por que ela é tão prevalente entre os brasileiros. O Brasil combina uma série de fatores que alimentam esse transtorno.
O ritmo acelerado das metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, onde o trânsito caótico e as longas jornadas de trabalho são rotina, eleva os níveis de estresse crônico. A pressão financeira também pesa: com inflação, desemprego e custo de vida em alta, muitos vivem sob a incerteza constante, um gatilho clássico para a ansiedade.
Além disso, a cultura brasileira de “dar um jeitinho” e esconder vulnerabilidades pode dificultar a busca por ajuda. Dados do Ministério da Saúde mostram que apenas 30% das pessoas com transtornos mentais procuram tratamento no SUS, mesmo com serviços como os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) disponíveis. Some a isso o impacto da pandemia de COVID-19, que intensificou o isolamento e a insegurança, e temos um cenário onde a ansiedade floresce. Mas como distinguir o nervosismo normal do dia a dia de um quadro de ansiedade que merece atenção?
Os Principais Sinais de Ansiedade

A ansiedade é uma reação natural do corpo a situações de perigo ou incerteza, mas ela se torna um problema quando é persistente, intensa ou desproporcional ao contexto. No Brasil, onde o estresse faz parte da rotina, pode ser difícil diferenciar o “normal” do preocupante. Aqui estão os sinais mais comuns para você avaliar se está lidando com ansiedade, divididos em categorias:
1. Sintomas Físicos
O corpo muitas vezes “fala” antes da mente. A ansiedade ativa o sistema nervoso simpático, preparando-nos para “lutar ou fugir”, o que gera reações físicas visíveis. Pergunte-se:
- Coração acelerado ou palpitações: Você já sentiu seu coração disparar sem motivo aparente, como ao acordar ou pensar no trabalho?
- Falta de ar ou aperto no peito: Sente dificuldade de respirar fundo, como se o ar não chegasse aos pulmões, mesmo estando parado?
- Tremores: Mãos trêmulas, pernas inquietas ou uma sensação de “nervos à flor da pele” são frequentes?
- Suor excessivo: Suar frio nas mãos ou no corpo, mesmo em dias frescos, é um sinal clássico.
- Dores sem causa física: Dor de cabeça frequente, tensão no pescoço ou ombros, ou até dores de estômago podem ser ansiedade acumulada.
2. Sintomas Emocionais
A ansiedade também bagunça as emoções, criando um ciclo de pensamentos negativos. Reflita:
- Preocupação constante: Você se pega pensando demais em problemas futuros, como pagar contas ou “o que vai acontecer amanhã”, mesmo sem evidências reais de perigo?
- Medo irracional: Sente pavor de situações cotidianas, como falar em público ou sair de casa?
- Irritabilidade: Fica impaciente ou “explode” com facilidade, mesmo com coisas pequenas, como o barulho do vizinho?
- Sensação de esgotamento: Parece que está sempre “no limite”, sem energia para coisas que antes gostava?
Esses sentimentos são relatados por muitos brasileiros, especialmente em grandes cidades.
3. Sintomas Comportamentais
A ansiedade muda como agimos no dia a dia. Por exemplo:
- Insônia ou sono ruim: Demora para dormir, acorda várias vezes ou tem pesadelos constantes? No Brasil, 45% da população relata problemas de sono, segundo a Sociedade Brasileira de Sono, muitas vezes ligados a ansiedade.
- Evitar situações: Você já deixou de ir a um evento ou de encarar uma tarefa por medo de falhar ou ser julgado?
- Dificuldade de concentração: Sente que a mente “não para”, dificultando focar no trabalho ou em uma conversa?
- Hábitos nervosos: Roer unhas, mexer no cabelo ou tamborilar os dedos sem perceber são sinais sutis.
Fatores que Agravam a Ansiedade no Brasil
Alguns elementos do cotidiano brasileiro podem intensificar esses sinais:
- Estresse Urbano: Trânsito, barulho e superlotação em cidades como São Paulo (onde o tempo médio no trânsito é de 2 horas/dia) sobrecarregam o sistema nervoso.
- Dieta Desbalanceada: O consumo elevado de ultraprocessados (60% da dieta média, IBGE) e cafeína (café forte é tradição) desregula o corpo, piorando a ansiedade.
- Falta de Tempo: Jornadas duplas (trabalho e casa) deixam pouco espaço para relaxar ou se exercitar.
- Pandemia e Pós-Pandemia: Estudos da Fiocruz mostram que a ansiedade subiu 80% entre 2020-2022 devido a perdas, incertezas e isolamento.
Se você vive esses cenários e nota os sintomas acima, a ansiedade pode estar mais presente do que imagina.
Quando a Ansiedade é Normal e Quando é um Problema?

Todo mundo sente ansiedade em algum momento, seja antes de uma prova, em uma entrevista ou durante uma notícia importante. Ela é normal quando é passageira e proporcional ao evento. Mas como saber se passou do limite? Considere:
- Duração: Dura semanas ou meses, mesmo sem motivo claro?
- Intensidade: Impede você de trabalhar, estudar ou socializar?
- Frequência: Acontece quase todos os dias, como um peso constante?
Se respondeu “sim” a essas perguntas, pode ser um transtorno de ansiedade, como o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), comum em 6% dos brasileiros, segundo o Instituto de Psiquiatria da USP.
O Que Fazer Se Você Suspeita de Ansiedade?
Se os sinais estão presentes, aqui estão passos iniciais para confirmar e agir:
- Autoavaliação: Anote por uma semana quando os sintomas aparecem, o que os desencadeia e como você se sente. Exemplo: “Segunda, 8h: coração acelerado antes do trabalho.”
- Converse com Alguém: Fale com um amigo ou familiar. No Brasil, a cultura de “desabafar” pode ser um primeiro alívio.
- Procure um Profissional: Psicólogos ou psiquiatras (disponíveis no SUS via UBS ou CAPS) podem diagnosticar com precisão. Testes como a Escala de Ansiedade de Beck ajudam a medir o nível.
- Mudanças Simples: Reduza café, caminhe 30 minutos por dia (libera endorfina), experimente respiração profunda (4 segundos inspira, 6 expira).
Primeiros Passos para Cuidar da Saúde Mental
Não é preciso esperar um diagnóstico para começar a se cuidar:

- Alimentação: Inclua ômega-3 (sardinha, linhaça) e magnésio (castanha-do-pará), que acalmam o cérebro. Esses alimentos ajudam a reduzir inflamações cerebrais ligadas à ansiedade, segundo estudos do American Journal of Psychiatry.
- Sono: Crie uma rotina noturna (desligar telas 1h antes).
- Exercício Físico: Caminhar 30 minutos por dia, dançar ou fazer yoga libera endorfinas, neurotransmissores que promovem o bem-estar. A OMS recomenda 150 minutos semanais de atividade moderada, algo que você pode adaptar à rotina — como subir escadas em vez de pegar o elevador ou passear no parque.
- Técnicas de Relaxamento: A respiração diafragmática (inspire por 4 segundos, segure por 4, expire por 6) é simples e eficaz para acalmar o sistema nervoso em minutos.
- Apoio: Participe de grupos comunitários ou apps como o “CVV” (ligue 188 para apoio gratuito).
Conclusão: Reconhecer é o Primeiro Passo
Se você identificou alguns desses sintomas, saiba que não está sozinho: milhões de pessoas enfrentam o mesmo. Comece observando, anotando, e, se precisar, peça ajuda. Sua saúde mental merece tanta atenção quanto a física.
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